COMO SERIA... SE OS VIKINGS TIVESSEM COLONIZADO A AMÉRICA?
Parte I
No século IX a Europa vivia sua fase de mais acentuado declínio. Praticamente sem vida urbana, fragmentada territorial e politicamente e tendo esquecido grande parte do legado civilizacional greco-romano, o continente era invadido por todos os lados. Ao sul, os sarracenos. A leste, os magiares. Mas nenhum outro invasor causava mais pânico do que aqueles que vinham pelos mares e rios e saltavam de seus navios de armas em punho, pilhando tudo que vissem pela frente e matando todos os que se dispunham a impedir o saque. Nas igrejas e mosteiros, a cristandade rezava: “da fúria dos homens do norte, livrai-nos, Senhor”.
Durante duzentos anos os “homens do norte” se lançaram para fora de suas terras na Jutlândia e na Escandinávia, não apenas espalhando o terror e promovendo a desordem. Foi um clã Viking autodenominado Rus que fundou o primeiro dos reinos que posteriormente dariam origem à Rússia; Moscou e Kiev foram fundadas por eles. Na Normandia francesa estabeleceram-se para depois conquistar a Bretanha, já cristianizados. Mas o que interessa é o avanço deles rumo às encostas geladas do norte. Em fins do século IX, descobriram essa ilhota vulcânica que hoje chamamos Islândia. A Groenlândia começou a ser habitada logo em seguida. Os Vikings não dominavam a navegação em alto-mar (faltava-lhes a bússola e o astrolábio), mas naquela época ninguém dominava melhor que eles as técnicas de navegação costeira. Por volta do ano 1000, Leif Eriksson, filho do governante da Groenlândia, parte em busca de terras com clima mais ameno a oeste e encontra a costa leste do Canadá (hoje província de Newfoundland). Lá funda uma pequena aldeia chamada Vinland, que subsiste durante trinta anos antes de ser abandonada às pressas. Dada à dificuldade de se chegar à região na época (eram três semanas de navegação difícil que só podia ser feita dois meses por ano), os vikings não mais retornaram e Vinland persistiu nas narrativas épicas, tida como fictícia até ser encontrada nos anos 60.
No entanto, a colonização de Vinland não era tarefa impossível. Seus colonos desistiram devido às dificuldades de contato com a Groenlândia, de onde vinha material e pessoal, e a escassez de madeira e ferro na região, que fragilizou a comunidade no confronto com os nativos. Mas os mesmos vikings sabiam que havia madeira e ferro em abundância nas proximidades da baía de Baffin, e mesmo por um exíguo período, conviveram pacificamente com os índios Beothuk. Tivessem os pioneiros estabelecido de imediato uma rota para Markland (terra das madeiras, como eles chamavam a região do Labrador, norte canadense), se supririam de madeira suficiente para construir suas povoações e de ferro suficiente para fabricar ferramentas e, principalmente, armas para eventuais combates com os índios. Virando-se por conta própria e contando com a escassa ajuda groenlandesa, Vinland consegue se estabelecer.
Como já foi dito, os vikings eram excelentes navegadores, e suas embarcações conseguiam singrar mares e rios com eficiência. Sabendo que havia um território de dimensões desconhecidas para oeste, os vinlandeses lançam-se em seus barcos a explorar a foz e o leito do rio São Lourenço, onde rapidamente surgem vários povoados nas margens. Os habitantes dessas vilas são principalmente habitantes da Groenlândia, que não hesitariam em trocar aquela terra gélida por um lugar mais quente e com mais recursos, e ainda por cima com clima semelhante ao da Escandinávia, berço dos vikings. As notícias dessas terras vastas e férteis não demoraria a chegar ao norte europeu, e alguns noruegueses, suecos e dinamarqueses sem eira nem beira ou perseguidos começariam a chegar por volta do final do século XI. A viagem, porém, é difícil: são várias semanas a bordo de embarcações sem cobertura, e não bastasse isso, a travessia só podia ser realizada de junho a agosto. Dessa forma, o povoamento inicialmente seria lento, dependendo mais do ritmo de crescimento dos já estabelecidos em solo americano que da imigração. No início do século XII, enquanto a cristandade se une em armas para tomar a Palestina, os colonos nórdicos na América atingem a região dos Grandes Lagos, e lá vislumbram as grandes e férteis pradarias do meio-oeste da América do Norte.
Nessa época as diversas aldeias espalhadas por Newfoundland e pelo curso do São Lourenço estariam unificadas sob a égide de um monarca, mas preservariam grande autonomia local, tanto pelas dificuldades de contato como pela própria cultura viking, que nunca teve pendores para muita centralização. Na Europa, os reinos escandinavos estavam consolidados, e suas populações cristianizadas. O zelo inquebrantável dos missionários cristãos os faria chegar à Islândia, à Groenlândia e finalmente à América. Devido às já mencionadas dificuldades de acesso, a fé cristã demoraria a chegar, mas na época em que nos encontramos ela já estaria por lá havia algumas décadas, absorvendo aos poucos as crenças pagãs ao mesmo tempo em que estas imprimiam suas marcas no cristianismo vinlandês. Da mesma forma que ocorreu no norte da Europa, os monarcas se converteriam primeiro e a população lentamente os seguiria, e nesse ínterim, paganismo e cristianismo conviveriam, embora não se descarte que alguns enclaves renitentes em preservar a religião viking tenham se embrenhado no interior com o intento de viver numa sociedade livre da nova fé.
O restante da Europa já havia tido contato com relatos dos nórdicos acerca de uma terra distante a oeste, mas a descoberta da vastidão do Novo Mundo atiça pessoas de todos os segmentos sociais, desde jovens nobres desfavorecidos nos direitos hereditários a camponeses empobrecidos, incluindo ainda judeus e hereges em geral, perseguidos por autoridades tanto seculares como eclesiásticas. Mas a caravela ainda não tinha sido inventada; apesar dos vinlandeses terem aprimorado o drakkar que os levara ao novo continente, o trajeto continua bordejando as calotas polares árticas, o que faz muitos desistirem. Mas alguns se arriscam; Noruega e norte escocês tornam-se os pontos de partida dos emigrantes, servindo as ilhas do Mar do Norte e a Islândia como entrepostos na longa jornada. Essa primeira leva de colonos não-nórdicos é bem recebida do outro lado do Atlântico, seja porque havia terra demais para gente de menos, seja porque não eram numerosos a ponto de fazer os vinlandeses se sentirem ameaçados.
Entre esses primeiros imigrantes, os judeus exercerão papel mais destacado. Proibidos de possuir terras na Europa Cristã, eles se especializaram em ofícios manuais que lhes deram grande conhecimento técnico, além de monopolizarem as finanças, graças à proibição católica à prática da usura. Os recém-chegados trazem consigo o primeiro sopro do vento capitalista que começava a sibilar em terras européias, e os judeus, com suas características especiais já mencionadas, são a pedra angular desse início de mudança. No decorrer do século XII são poucos os imigrantes europeus na Vinlândia: a luta pela Terra Santa absorve por demais a cristandade para que esta se preocupe com longínquas terras ocidentais que distam meses de viagem e cujo acesso é restrito e dificílimo. Para evitar a dispersão de esforços no mundo cristão alguns clérigos eminentes escrevem longos e minuciosos tratados demonstrando que a existência de tais terras não passa de mais uma lenda numa época repleta delas. O fato de não existir correio inter-oceânico na época fazia tais desmentidos terem algum grau de aceitação, principalmente nas regiões mais ao sul.
Nas ilhas britânicas e no norte da Europa, pontos de partida para expedições rumo ao ocidente, é impossível desmentir os boatos. Camponeses, perseguidos pelos governantes ou pela justiça e todos aqueles que se sentissem desprestigiados na situação vigente e dispondo de uma dose considerável de destemor afluíam aos portos em busca da nova terra das oportunidades. O movimento migratório persiste mais forte nesses lugares, e embora autoridades locais tomem episodicamente medidas para restringir esse fluxo, ele se mantém, lento, porém constante.
(Amanhã: albigenses, templários e demais hereges afluem ao Novo Mundo; a relação da Vinlândia com os índios; um pequeno reino da Europa meridional começa a olhar para o Atlântico; A Igreja, as novas terras e seus fiéis)
Durante duzentos anos os “homens do norte” se lançaram para fora de suas terras na Jutlândia e na Escandinávia, não apenas espalhando o terror e promovendo a desordem. Foi um clã Viking autodenominado Rus que fundou o primeiro dos reinos que posteriormente dariam origem à Rússia; Moscou e Kiev foram fundadas por eles. Na Normandia francesa estabeleceram-se para depois conquistar a Bretanha, já cristianizados. Mas o que interessa é o avanço deles rumo às encostas geladas do norte. Em fins do século IX, descobriram essa ilhota vulcânica que hoje chamamos Islândia. A Groenlândia começou a ser habitada logo em seguida. Os Vikings não dominavam a navegação em alto-mar (faltava-lhes a bússola e o astrolábio), mas naquela época ninguém dominava melhor que eles as técnicas de navegação costeira. Por volta do ano 1000, Leif Eriksson, filho do governante da Groenlândia, parte em busca de terras com clima mais ameno a oeste e encontra a costa leste do Canadá (hoje província de Newfoundland). Lá funda uma pequena aldeia chamada Vinland, que subsiste durante trinta anos antes de ser abandonada às pressas. Dada à dificuldade de se chegar à região na época (eram três semanas de navegação difícil que só podia ser feita dois meses por ano), os vikings não mais retornaram e Vinland persistiu nas narrativas épicas, tida como fictícia até ser encontrada nos anos 60.
No entanto, a colonização de Vinland não era tarefa impossível. Seus colonos desistiram devido às dificuldades de contato com a Groenlândia, de onde vinha material e pessoal, e a escassez de madeira e ferro na região, que fragilizou a comunidade no confronto com os nativos. Mas os mesmos vikings sabiam que havia madeira e ferro em abundância nas proximidades da baía de Baffin, e mesmo por um exíguo período, conviveram pacificamente com os índios Beothuk. Tivessem os pioneiros estabelecido de imediato uma rota para Markland (terra das madeiras, como eles chamavam a região do Labrador, norte canadense), se supririam de madeira suficiente para construir suas povoações e de ferro suficiente para fabricar ferramentas e, principalmente, armas para eventuais combates com os índios. Virando-se por conta própria e contando com a escassa ajuda groenlandesa, Vinland consegue se estabelecer.
Como já foi dito, os vikings eram excelentes navegadores, e suas embarcações conseguiam singrar mares e rios com eficiência. Sabendo que havia um território de dimensões desconhecidas para oeste, os vinlandeses lançam-se em seus barcos a explorar a foz e o leito do rio São Lourenço, onde rapidamente surgem vários povoados nas margens. Os habitantes dessas vilas são principalmente habitantes da Groenlândia, que não hesitariam em trocar aquela terra gélida por um lugar mais quente e com mais recursos, e ainda por cima com clima semelhante ao da Escandinávia, berço dos vikings. As notícias dessas terras vastas e férteis não demoraria a chegar ao norte europeu, e alguns noruegueses, suecos e dinamarqueses sem eira nem beira ou perseguidos começariam a chegar por volta do final do século XI. A viagem, porém, é difícil: são várias semanas a bordo de embarcações sem cobertura, e não bastasse isso, a travessia só podia ser realizada de junho a agosto. Dessa forma, o povoamento inicialmente seria lento, dependendo mais do ritmo de crescimento dos já estabelecidos em solo americano que da imigração. No início do século XII, enquanto a cristandade se une em armas para tomar a Palestina, os colonos nórdicos na América atingem a região dos Grandes Lagos, e lá vislumbram as grandes e férteis pradarias do meio-oeste da América do Norte.
Nessa época as diversas aldeias espalhadas por Newfoundland e pelo curso do São Lourenço estariam unificadas sob a égide de um monarca, mas preservariam grande autonomia local, tanto pelas dificuldades de contato como pela própria cultura viking, que nunca teve pendores para muita centralização. Na Europa, os reinos escandinavos estavam consolidados, e suas populações cristianizadas. O zelo inquebrantável dos missionários cristãos os faria chegar à Islândia, à Groenlândia e finalmente à América. Devido às já mencionadas dificuldades de acesso, a fé cristã demoraria a chegar, mas na época em que nos encontramos ela já estaria por lá havia algumas décadas, absorvendo aos poucos as crenças pagãs ao mesmo tempo em que estas imprimiam suas marcas no cristianismo vinlandês. Da mesma forma que ocorreu no norte da Europa, os monarcas se converteriam primeiro e a população lentamente os seguiria, e nesse ínterim, paganismo e cristianismo conviveriam, embora não se descarte que alguns enclaves renitentes em preservar a religião viking tenham se embrenhado no interior com o intento de viver numa sociedade livre da nova fé.
O restante da Europa já havia tido contato com relatos dos nórdicos acerca de uma terra distante a oeste, mas a descoberta da vastidão do Novo Mundo atiça pessoas de todos os segmentos sociais, desde jovens nobres desfavorecidos nos direitos hereditários a camponeses empobrecidos, incluindo ainda judeus e hereges em geral, perseguidos por autoridades tanto seculares como eclesiásticas. Mas a caravela ainda não tinha sido inventada; apesar dos vinlandeses terem aprimorado o drakkar que os levara ao novo continente, o trajeto continua bordejando as calotas polares árticas, o que faz muitos desistirem. Mas alguns se arriscam; Noruega e norte escocês tornam-se os pontos de partida dos emigrantes, servindo as ilhas do Mar do Norte e a Islândia como entrepostos na longa jornada. Essa primeira leva de colonos não-nórdicos é bem recebida do outro lado do Atlântico, seja porque havia terra demais para gente de menos, seja porque não eram numerosos a ponto de fazer os vinlandeses se sentirem ameaçados.
Entre esses primeiros imigrantes, os judeus exercerão papel mais destacado. Proibidos de possuir terras na Europa Cristã, eles se especializaram em ofícios manuais que lhes deram grande conhecimento técnico, além de monopolizarem as finanças, graças à proibição católica à prática da usura. Os recém-chegados trazem consigo o primeiro sopro do vento capitalista que começava a sibilar em terras européias, e os judeus, com suas características especiais já mencionadas, são a pedra angular desse início de mudança. No decorrer do século XII são poucos os imigrantes europeus na Vinlândia: a luta pela Terra Santa absorve por demais a cristandade para que esta se preocupe com longínquas terras ocidentais que distam meses de viagem e cujo acesso é restrito e dificílimo. Para evitar a dispersão de esforços no mundo cristão alguns clérigos eminentes escrevem longos e minuciosos tratados demonstrando que a existência de tais terras não passa de mais uma lenda numa época repleta delas. O fato de não existir correio inter-oceânico na época fazia tais desmentidos terem algum grau de aceitação, principalmente nas regiões mais ao sul.
Nas ilhas britânicas e no norte da Europa, pontos de partida para expedições rumo ao ocidente, é impossível desmentir os boatos. Camponeses, perseguidos pelos governantes ou pela justiça e todos aqueles que se sentissem desprestigiados na situação vigente e dispondo de uma dose considerável de destemor afluíam aos portos em busca da nova terra das oportunidades. O movimento migratório persiste mais forte nesses lugares, e embora autoridades locais tomem episodicamente medidas para restringir esse fluxo, ele se mantém, lento, porém constante.
(Amanhã: albigenses, templários e demais hereges afluem ao Novo Mundo; a relação da Vinlândia com os índios; um pequeno reino da Europa meridional começa a olhar para o Atlântico; A Igreja, as novas terras e seus fiéis)
2 Comments:
Jô, vc precisa passar no BOB – http://brasil.business-opportunities.biz/blogueiros-brasileiros-brazilian-bloggers/
Venha fazer parte da primeira página dos blogueiros(as) brasileiros e espalhe a novidade, já tem bastante gente por lá ;)
bj$$$
Cris Zimermann
Business Opportunities Brasil
Franchise Business Opportunities
Virtual Entrepreneur
legal aqui
o q tu fazes tem um nome: TEORIA CONTRAFACTUAL
é bem interessante...
abraço
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