Thursday, September 27, 2007

COMO SERIA... SE OS VIKINGS TIVESSEM COLONIZADO A AMÉRICA?


Parte IV


Sob os auspícios do reinado de Dom Manuel, o Venturoso, Portugal é uma nação desproporcionalmente poderosa no concerto das forças políticas européias. A rota das especiarias indianas é longa, arriscada e cara? O ouro mexicano estava lá para amortizar possíveis perdas. E para assegurar a posse dessas terras e desse ouro os portugueses se adiantam e rapidamente estabelecem portos e fortificações ao longo da costa centro-americana, de modo que a América Central estaria firme em suas mãos. Ingleses, franceses, holandeses e espanhóis ocupavam as Antilhas e nelas produziam o açúcar tão cobiçado e valioso no Velho Continente.


Ao mesmo tempo em que se estabelecem nas terras que conseguem dominar, as nações européias que participam da empresa expansionista não param de tentar alargar seus domínios. Na primeira metade do século XVI ocupam a costa sulamericana do Mar do Caribe e chegam até a foz do rio Amazonas, do que se depreende que Pindorama teria sido descoberta no Pará, e não na Bahia. Saber quais povos teriam conseguido se estabelecer em quais lugares da costa brasileira é um exercício de pura especulação, mas em tal cenário de acirrada competição, é possível afirmar com certeza quase absoluta que nenhuma nação teria conseguido o domínio pleno de toda a costa nacional, e que portanto o Brasil enquanto entidade política unificada pelo domínio de um só colonizador jamais teria existido. Podemos imaginar franceses estabelecidos da foz do Amazonas até as praias do Ceará, holandeses e ingleses disputando o restante da costa nordestina enquanto bordejavam o restante do nosso litoral procurando riquezas minerais e terras férteis para o plantio de produtos tropicais valorizados no mercado europeu.


Um pouco mais ao norte, os domínios portugueses se expandiam até as proximidades da Cordilheira dos Andes, descobrindo o outro grande império nativo da época: os incas. Na época dos primeiros contatos, o Império do Sol era governado pela mão forte de Manco Capac, e vivia o auge de seu poderio militar. Era ainda mais coeso, populoso e difícil de conquistar que o Império Asteca, pelo que Portugal não o afrontaria de imediato. A briga, na verdade, seria entre os próprios europeus, já que os outros também tomariam conhecimento da opulência inca e também tentariam aproveitar a nova oportunidade. A disputa interna que se seguiu à morte de Capac precipitaria os acontecimentos, com portugueses fechando um acordo de cooperação com Atahualpa e franceses, holandeses, espanhóis e ingleses tentando compor alianças com o irmão rebelde Huascar. O Império Inca mergulha numa guerra civil prolongada, com cada nação européia envolvida na contenda tentando apoiar o lado que lhe parecesse mais vantajoso. E aqui a Vinlândia desempenha um papel importante: é ela que serve de entreposto para as missões européias que partem para a Grande Guerra dos Andes; suas férteis pradarias fornecem os suprimentos necessários para o sustento das atividades bélicas, de alimentos a armas, passando por barcos e mesmo mercenários. E nesse contexto uma aliança com o soberano vinlandês se torna crucial para quem quiser perdurar na aventura colonial no Novo Mundo. A guerra na cordilheira fomenta a agricultura, a manufatura e o comércio da Vinlândia, que se torna uma nação próspera com quem as cabeças coroadas européias pretendem manter as melhores relações. Não seria nada surpreendente que as casas monárquicas da Europa tentassem unir-se à família real vinlandesa por meio de matrimônios estratégicos.


Independente de quem vença o conflito andino, a Vinlândia, portanto, já ascende como força a ser considerada no xadrez geopolítico europeu. E ao mesmo tempo em que se articula com as potências coloniais européias, defende também seus próprios interesses na guerra, o que a conduz a um choque inevitável com o governo colonial português incrustado no altiplano mexicano. Após anos de sangrentas contendas, uma grande e decisiva batalha coloca de lados opostos Atahualpa e seus aliados portugueses, e Huascar com sua coalizão européia e vinlandesa. Unindo-se a Pizarro, Huascar derrotou o irmão na história real, e amparando-se em um amplo leque de alianças, teria derrotado Atahualpa também na história imaginária. Seguir-se-ia à vitória definitiva a sua coroação como legítimo sucessor do grande Manco Capac, mas a essa altura dos acontecimentos ele não seria muito mais que um monarca fantoche, tendo que se curvar ante os interesses ingleses, holandeses, franceses e, sobretudo, vinlandeses.


Antes que a reforma religiosa pusesse a Europa em polvorosa, uma grande rivalidade já havia nascido do lado de cá do Atlântico. Definhando o comércio das especiarias orientais, Portugal voltar-se-ia definitivamente para suas conquistas ocidentais. A opinião geral em Lisboa era a de que os lusos haviam perdido a guerra inca por ter dividido seus esforços entre o oriente e o ocidente. E o grande inimigo a ser confrontado já estava mais do que identificado: a Vinlândia, o reino nórdico medieval que havia expandido suas fronteiras na América do Norte graças à imigração e que já era uma potência agrícola, manufatureira e militar. Os ingleses, espertos como só eles e grandes navegadores, estabeleceram-se no estuário do Rio da Prata, e transformaram-se no grande entreposto entre a prata e o ouro peruanos e os mercados europeus, além de haverem resguardado para si trechos da costa brasileira onde tentavam plantar cana-de-açúcar e algodão. Holandeses e franceses, ocupantes do restante de nossa costa, tratavam também de consolidar suas conquistas aqui e nas Antilhas, enquanto Portugal, exaurido pela aventura oriental e com população diminuta demais para colonizar e defender um território tão grande e cobiçado quanto a América Central, compõe alianças com seus vizinhos ibéricos na tentativa de fortalecer suas colônias.


(No próximo capítulo: o fluxo de escravos africanos para as plantations; a Reforma e suas implicações no equilíbrio de forças na América; a união ibérica e uma nova grande guerra no Novo Mundo)

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